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CEDErva acompanha visita da FAO Brasil para avaliação da candidatura SIPAM

  • Foto do escritor: Brenda Rotter
    Brenda Rotter
  • 26 de mar.
  • 4 min de leitura

Na semana de 17 a 20 de março, o CEDErva acompanhou a visita da representante do comitê científico da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Dra. Norma Ruz Varas, que veio conhecer os sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate. Esta é a última etapa de avaliação da FAO para que a produção de erva-mate sombreada seja reconhecida como um Sistema Importante do Patrimônio Agrícola Mundial (SIPAM). A comitiva esteve em propriedades nos municípios de Rebouças, Inácio Martins, Irati, São João do Triunfo e São Mateus do Sul. Estiveram presentes lideranças comunitárias, comunidades faxinalenses, indígenas, sindicatos de trabalhadores rurais, pesquisadores e agricultores, além de autoridades federais, estaduais e municipais. 


A Visita 


Na segunda-feira, dia 17, o grupo visitou a Cooperativa Mista de Desenvolvimento da Agricultura Familiar de Rebouças (COMDAFAR), onde foi possível conhecer o processo de organização e comercialização dos produtos provenientes da agricultura familiar, especialmente destinados às escolas estaduais e municipais, bem como à Ceasa.

Na terça-feira, dia 18, a comunidade da Terra Indígena Rio d’Areia, no município de Inácio Martins, acolheu a equipe. O grupo foi recebido com uma roda de chimarrão e uma apresentação cultural preparada pelos jovens da comunidade. Após o almoço na comunidade, a comitiva seguiu para o Assentamento Fazenda Velha, onde visitou a propriedade de Joscimar, que desenvolve atividades agroecológicas ligadas à erva-mate e outros produtos oriundos da Floresta com Araucária. 


No terceiro dia, os participantes visitaram a Estação Florestal do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR–IAPAR-EMATER), onde foram recebidos pela Diretora de Pesquisa do IDR-PR, Dra. Vânia Moda Cirino, com um café de boas-vindas. Durante a visita, conheceram os experimentos de restauração produtiva, que integram técnicas sustentáveis de cultivo em áreas de preservação. A programação incluiu também uma imersão num remanescente importante da Floresta com Araucária, localizada dentro da área do IDR-PR, onde os participantes puderam explorar uma região bastante preservada da Floresta Ombrófila Mista. A experiência destacou as possibilidades das práticas agroflorestais inovadoras e a conservação ambiental, reforçando a importância da sustentabilidade no manejo de ecossistemas.


Após o almoço, a comitiva seguiu para o Faxinal do Emboque, em São Mateus do Sul, onde foi recebida pela Família Wenglarek. Durante a visita, os participantes conheceram o sistema tradicional faxinalense, uma prática cultural e produtiva que reflete a história e a identidade da região. O senhor Paulo compartilhou não apenas o processo artesanal de colheita e sapeco — que inclui passar os galhos de erva-mate na fogueira, separá-los em feixes e levá-los ao cancheador rústico da propriedade —, mas também relatou o processo histórico de constituição do Faxinal. Ele e sua esposa Dona Olga destacaram a luta e a organização da comunidade para garantir o reconhecimento e a preservação desse modo de vida, culminando na conquista da ARESUR (Área de Referência para Sistemas de Uso dos Recursos), um marco importante para a valorização e sustentabilidade do sistema Faxinal.


No dia 20, o grupo visitou a Ervateira 5 Estrelas, em São João do Triunfo, uma empresa familiar que incorpora a tradição da produção de erva-mate há gerações. Durante o passeio pela propriedade, o proprietário, senhor João Negir, conduziu os visitantes por uma floresta repleta de histórias e biodiversidade. Ele fez diversas pausas para compartilhar o conhecimento sobre as espécies nativas, destacando, por exemplo, uma imbuia que tem mais de 600 anos de idade. Além disso, apresentou uma descoberta recente: uma variedade de erva-mate com propriedades anti-inflamatórias promissoras. De volta à agroindústria, o grupo foi recebido com um delicioso bolo de erva-mate e um refrescante chá mate gelado, símbolos da hospitalidade local. Em seguida, a representante da FAO conheceu a estrutura de processamento da erva-mate, onde pode acompanhar as etapas de produção e entender como a tradição se une à tecnologia para manter a qualidade e a autenticidade do produto.


Após um almoço oferecido pela prefeitura municipal de São João do Triunfo, Mario Cezar da Silva, o encerramento do encontro ocorreu no Barracão da Cidadania, marcando um momento de reflexão e diálogo sobre o papel central da erva-mate na cultura, na sociabilidade e na economia da região. Durante a reunião, foram abordados temas essenciais, como a necessidade de fortalecer a cadeia produtiva da erva-mate, o compromisso das instituições presentes em fomentar o desenvolvimento sustentável dessa economia e as oportunidades estratégicas que surgiriam com a possível aprovação do selo SIPAM da erva-mate sombreada. Representação de patrimônio agrícola e cultural, o selo SIPAM trará não apenas visibilidade e valorização para a erva-mate sombreada, mas também abrirá novas perspectivas para os produtores e comunidades locais, impulsionando a economia e preservando saberes tradicionais. O encontro reforçou a união e a colaboração entre os participantes, destacando a importância do trabalho coletivo e comunitário para garantir um futuro mais próspero, sustentável e conectado às raízes históricas e culturais da região.


A candidatura


Os agricultores tradicionais e agroecológicos do Paraná e seus parceiros estão empenhados, desde março de 2020, na candidatura para a qualificação dos Sistemas Tradicionais de Erva-mate como Sistema Importante do Patrimônio Agrícola Mundial (SIPAM). O grupo trabalhou por mais de 18 meses, realizando reuniões corriqueiras de forma remota devido à pandemia de COVID-19, que resultou nos dois documentos entregues à FAO: um extenso dossiê sobre todos os aspectos que caracterizam os sistemas e um plano de ação de conservação dinâmica, que estrutura as ações que serão desempenhadas pelos próximos cinco anos.


A mobilização para essa candidatura é liderada pelo Observatório dos Sistemas Tradicionais e Agroecológicos de Erva-mate, lançado em 2019 – que reúne mais de 30 instituições, incluindo sindicatos de trabalhadores rurais, prefeituras, centros de pesquisa, universidades e organizações do Terceiro Setor – e foi coordenada pelo CEDErva (Centro de Desenvolvimento e Educação dos Sistemas Tradicionais de Erva-mate). 


O reconhecimento SIPAM vai além de um título simbólico. Ele representa um importante mecanismo de valorização de sistemas agrícolas que integram o uso sustentável dos recursos naturais e práticas tradicionais de manejo. A FAO, ao conceder essa qualificação, fomenta a preservação das culturas tradicionais, incentiva o desenvolvimento da agroecologia e melhora a qualidade de vida das famílias agricultoras, fortalecendo a identidade cultural e a agrobiodiversidade.



Fotos: Equipe CEDErva.

 
 
 

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